“Estamos à mercê da cultura que nos é empurrada goela abaixo por gente que nem intelectualmente interessante o é, de que somos um País pobre, sem compromisso”

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Cinco perguntas ao poeta Hang Ferrero – por Afonso Nilson

Hang Ferrero é um poeta que além de escrever livros, declama seus textos com grande competência em saraus, shows e eventos de poesia. Profissional da saúde, leitor contumaz e heterogêneo, aborda em seus poemas e crônicas fatos de seu cotidiano e a experiência da fragilidade da vida.

Seus vídeos de poesia tiveram grande repercussão na internet, aproximando e atraindo leitores para suas obras. Sempre com seu humor ladino e com um poema na ponta da língua para as mais diversas situações, o poeta vem ao longo do tempo somando parcerias as mais diversas, e hoje, em seus saraus, a participação de DJs, profissionais de cinema, músicos, e de vários outros artistas é uma constante.

O poeta também leva habitualmente seus textos à várias escolas, trabalha a poesia e o amor à literatura com os alunos. Viaja par vários festivais e eventos de literatura, e é um grande difusor da poesia na região do Vale do Itajaí.

Nesta semana, o poeta realizou o show “Casa de Ferrero Espetos de Pau”, na noite de quarta-feira, 11 de abril, no Sesc Itajaí.

Abaixo, uma breve entrevista com o poeta:

Você é um dos poetas mais atuantes do Vale do Itajaí. Realiza saraus, espetáculos de poesia, vídeos-poemas, lança livros e visita escolas com seus livros e poemas. Poderia falar um pouco sobre a importância de aproximar autores e leitores, bem como da popularização da leitura, e como você vê o resultado das ações que desenvolve?

HF – Preciso admitir aqui, que descobri há pouco que de fato minhas ações recebiam tal visibilidade, antes disso, acreditava na premissa da lisonja comum ao meio, até dar-me conta do impacto de tais intervenções, pelos tantos formatos que “viajo”, acercando assim, expressivos e diferentes nichos. Acredito, inefragavelmente, que em particular, a poesia, sê uma extraordinária ferramenta de discussão, daí a importância da aproximação ao público, por tudo o que se pode fazer para “espantar” o obscurantismo das ideias e promover a possibilidade dos ideais.
Hoje, com o advento dos recursos maciços da internet, tem-se acesso infinito às pessoas e às suas necessidades, que cada vez fica mais claro, elencam o bem-estar como bússola da vida. É aí que atuo, ou tenho a pretensão de atuar. Brindemos!

É cada vez mais raro o hábito da leitura em voz alta, ou mesmo dos saraus de poesia. Como você idealiza seus recitais e leituras? Existe algum critério específico para escolha dos poemas e das parcerias em suas apresentações?

HF – De fato é cada vez mais raro ( eu só sei ler assim rsrs ). Os saraus, na minha ótica, até tem se popularizado. Na nossa região, conheci nove eventos e apenas três, por conjuntura pública, não resistiram e permanecem em stand by e há o desejo de resgatá-los. São ações pessoais, de apaixonados pelas razões do encontro e da discussão.

A prosa poética é comungada com alegria e festejada à exaustão. Priorizo minhas “baladas”, a estas propostas, saio de casa sempre pensando que dispositivo cultural devo apoiar naquele dia e isso tem feito diferença nas minhas e nas experiências que partilho. Meus recitais são necessariamente pensados para levar ao público, a tão providencial reflexão. Não me sentindo confortável, na vida, como um mero espectador, vou à luta e jogo isso para tudo que é lado. Tudo com muito cuidado, usando sempre da leveza e da gentileza.
Quanto à escolha dos poemas… Escrevo sempre minhas verdades, não consigo escrever d’outro modo e para minha sorte, minhas ideações tem relação com o bem e o bom e por essas razões, os textos se aplicam a quaisquer condições. Quanto aos parceiros, gosto demais dos que me vem genuinamente, inteiros e com olhar interessado. Quase sempre gasto mais que arrecado por gostar tanto de gente assim. Prefiro agir nas esferas menos privilegiadas da população, é ali que meu trabalho mais repercute positivamente, pelo pouco que tem, refletindo na discussão sobre as possibilidades. Mas não posso me furtar da oportunidade de imensamente agradecer aos parceiros da iniciativa privada, a exemplo do Sesc, que vem apoiando magistralmente tais propostas e sempre, com abertura indistinta a todos os públicos. Isso merece respeito e consideração. Minha gratidão…

Os textos de Código 1, Crônicas de Plantão, falam sobre sua experiência como profissional da saúde. De que forma a proximidade com casos extremos, com a dor e a morte, influenciam sua obra?

HF – Os textos do Código 1, Crônicas de Plantão, são das experiências dos meus plantões, tudo ali aconteceu, de fato. A saúde é o nosso bem maior, só ela pode promover uma satisfatória jornada pela maravilha que chamamos de VIDA. Desta maneira, quis tratar o assunto com o brilho que estes usuários dos serviços de saúde merecem, por terem me presenteado suas histórias. A morte, a loucura e o amor no sentido amplo, permeiam todo o meu trabalho, andam de mãos dadas, objetivando sentenciar, que uma coisa valoriza sobremaneira a outra. Confesso que minha área de atuação me deixa muito triste às vezes, pelo tanto de impotência que vez ou outra, tenho que assumir. Ainda assim, na crise, no caos, que meu trabalho mais se destaca e as palavras me fazem chamamento. É da crise que minha poesia se alimenta.

Quais autores moldaram sua formação como poeta? Quais poetas ou autores de Santa Catarina você tem acompanhado? Do cenário nacional, há algum autor que você queira destacar?

HF – Li de tudo da infância à adolescência. Dos HQs àquelas coleções que não acabavam nunca ( ficava sempre ansioso pela próxima publicação da Série Vagalume ). Mas em tempo, fui arrebatado pela poesia. Mário de Andrade, Waly Salomão, Hilda Hist, Ana Cristina César, estão entre as influências. Em Santa Catarina, Anderson Fabiano, Teca Mascarenhas, Magrú Floriano, Antônio Carlos Floriano, Eliana Jimenez, Miriam Almeida, Álvaro Castro, Marcelo Labes, Céres Felski, India Alves, Helena Chiarello e tantos outros como a escritora mirim Luiza Rodrigues são as minhas atuais paixões literárias.
Do cenário brasileiro, conheci recentemente o Tom Cardoso, paulistano, cronista por excelência, destes caras que escrevem com tanta propriedade que fica difícil resistir ao apelo dos textos.

No ambiente cada vez mais conturbado da política nacional, onde o fascismo grasna e relincha com ignorância criminosa, e a parcialidade do judiciário provoca prisões arbitrárias, como você vê o papel da poesia nesse contexto?

HF – Peço licença para responder a minha maneira: Octópodes. São braços tantos E AO REDOR DA BOCA e pouca “underwear”. Vinde a mim a decência ou ainda o credo da ignorância, não que tanto faça, mas a quem interessar possa, faz diferença nos meus dias. Estamos à mercê da cultura que nos é empurrada goela abaixo por gente que nem intelectualmente interessante o é, de que somos um País pobre, sem compromisso com a ética e naturalmente, “MORAL”, pra gente, é aquela dos finais das estorinhas da Disney ( que confesso, gostar pacas!). Então temos muita fé! Ah, é isso! JOÃOZINHO TRINTA “môquirido”; gostamos do luxo mesmo! Somos loucos pela barbárie e o inconsciente coletivo nunca nos afagou tanto e tão bem. Acabei de ouvir uma entrevista com um ministro do Supremo-Onipresente-Suprassumo-Tribunal-Extraterreno-Federal e quando ele foi questionado se era “bom” ter foro privilegiado no Brasil ele respondeu ao seu interlocutor: ” O SENHOR NÃO CONFIA NO STF?” Cara! Não consegui achar graça, mas fiquei imaginando Cunhas e Calheiros e Calhordas e tantos outros OCTÓPODES e seus tantos tentáculos ao redor DA BOCA ( sem ofensa aos moluscos )…

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