Por Miriam Costa

É preciso que o quadro na parede esteja bem alinhado, que suas cores saltem à luz, combinando com as cores do artista. É preciso, pois é sabido que a compradora, uma mulher loira de cabelos cacheados e graciosamente maquiada, se interessara pela peça que a deixou sem dormir por 3 dias!
É preciso ter mais arte em seu quarto, disse ela, do que os olhos molhados, suspensos no mistério de um sonho botânico… É preciso que a sala esteja bem iluminada, que nada a deixe intimidada a não ser a ânsia de se encontrar com o criador daquele quadro, o estranho medieval de um passado, onde caça e acha, monta a cavalo, cria, bebe e chama a atenção – o guardião dos becos na madrugada!!!!!!!!!
Inaugurada as linhagens.
Portas abertas!
Só um quadro – o quadro do Lobo.
A alegria é desdobrável, enquanto o tempo passa e a mulher vaga com seu vestido vermelho-prata pelo salão…. mas sua infinita beleza de pássaro não passa tão despercebida quanto o próprio idolatrado quadro, ela observa as horas, fixa os minutos com atenção.
Essa mulher, diziam, tinha atitude dos altos píncaros e o fogo de uma espécie amaldiçoada, um braço tatuado carregando medos camuflados, nenhuma vergonha banal e ria de todos os subterfúgios que surgem.
O artista tinha cabelos longos e escuros que poderiam ser transformados em um tinteiro completo, com a própria caneta de penas a cumprir a sina das cartas, mais uma candura na voz que se abrigava nos ouvidos dela. E era alto, vistoso homem moreno com sorriso revoltoso!
– Depressa, ele está entrando!
Todos olham em sua direção, em especial ela!
(Num salto, se aproxima e pôs-se ao seu lado, deu-lhe um beijo no rosto com uma certa licença poética.)
Eles já haviam se visto! – Em outras vidas, dizem…
As pessoas se olham rindo, vexadas talvez, curiosas mas felizes, é hora de se encontrarem, os 3: ela, ele e o quadro!
Ninguém tinha prevenido o destino daquela ocasião… mais tarde, sortidas velas estremecidas, iluminavam os pecados, o ondulado barro que brincou com a floresta, seria um atelier quase sem espaço, aqueles aventureiros benditos e seus astros, lobos em pele de lobos, com a lua-cheia, andando entre as conchas à beira mar…
A poesia é um elo entre as almas.
Obrigada Juan!! Muita alegria em estar aqui!!
Abç
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