O sorvete ia derretendo devagar, passando pelo pescoço e me lambuzando em um dia quente. Escorria em meio a meu suor.
Eu usava um vestido floral, de alças finas, que deixavam meus ombros dourados à mostra. Conseguia sentir aquela gotinha gelada escorrendo por meu colo.
Antes que manchasse meu vestido de linho, todo branco, rendado, passei meu dedo sobre ela, o que me deixou uma marca adocicada na pele.
Mesmo depois dos 30, estava lá, com o meu sorvete em mãos, me lambuzo, me sujo, afinal, essa é a graça: deixar o sorvete derreter bem demansinho e ir sentindo as gotas de chocolate na ponta da língua molhada, úmida.
O sorvete ia derretendo, estava quase no fim, já deleitada naquela nuvem branca, grudenta, melosa, mas extasiada em mim com a felicidade gemendo bem alto.
O alarme dispara: Plim! Plim!
Nos labirintos do meu corpo, quem dera sorvete fosse infinito.
Viviane de Paula
Viviane de Paula é apaixonada por planejar viagens, literatura e filmes. Educadora, escritora, designer educacional e graduada em Letras na Pontifícia Universidade Católica de Campinas. Dedica-se ao estudo de literatura afro-brasileira e africana, publicando poesias, contos e crônicas em coletâneas e antologias no Brasil. Atua, ainda, como colunista em blogs de ativismo étnico-social. É autora do livro «Flores Roxas», publicado pela Editora Patuá (SP).
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«Flores Roxas» é uma coletânea de poemas sobre autoestima, identidade, ancestralidade, feminilidade, perdas e reencontros, que perpassam pela realidade feminina do século XXI. Obrigada por compartilhar minha crônica 🙂
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