
Mauricio de Sousa recorda os bastidores da criação da Mônica, a dona da Rua do Limoeiro, há exatos 60 anos
por André Bernardo Itaú Cultural
“Você é misógino?” Quem fez a pergunta, num misto de brincadeira e provocação, foi um repórter da Folha de S.Paulo. Ex-colega de redação, ele não entendia por que, nas tirinhas que Mauricio de Sousa vendia para o jornal, só havia personagens masculinos: Franjinha, Cebolinha, Cascão, Piteco… Se soubesse o que significava a palavra misógino, o desenhista teria respondido de imediato que não. Como não fazia a mais remota ideia, correu até o dicionário mais próximo.
À noite, Mauricio não conseguia pensar em outra coisa. Não, ele não tinha aversão ou desprezo pelas mulheres. Só desenhava meninos porque conhecia bem aquele universo – quando criança, gostava de jogar bola, nadar no rio e trocar figurinhas com os garotos do bairro onde morava, em Mogi das Cruzes (SP), a 61 quilômetros da capital paulista. Depois do jantar, ele bem que tentou sentar à prancheta para trabalhar. Mas a pequena Mônica, com pouco mais de 2 anos, não deixou. A menina gorducha, baixinha e dentuça não parava quieta. Às vezes, puxava briga com as irmãs, Mariangela e Magali. Em outras, arrastava pela casa o coelho de palha que tinha acabado de ganhar do pai. Foi aí que, num estalo, Mauricio exclamou: “Peraí, como eu não pensei nisso antes?”. “Puxa, quem diria, hein? Sessenta anos… É claro que eu não esperava! Não sou mágico nem adivinho. Mas é sinal de que estou fazendo um bom trabalho, não acha?”, avalia o desenhista e empresário de 87 anos.

A pequena Mônica e os primeiros esboços da personagem (imagem: Mauricio de Sousa Produções)
A primeira aparição da Mônica nos quadrinhos aconteceu há 60 anos, em março de 1963, na tirinha de número 18 do Cebolinha. O garoto de cabelo espetado andava pela rua, equilibrando-se no meio-fio, quando deu de cara com a Mônica. “Saia da flente, menina!”, ordenou, perdendo a noção do perigo. “Deixe um ‘equilibrista’ passar!” Foi o suficiente para levar a primeira de incontáveis coelhadas. “Agola sei como as mulheres podem desequilibrar um homem!”, resmungou, sentado na calçada. “A Mônica foi a primeira personagem feminina do Bairro do Limoeiro e já nasceu empoderada. Surgiu num momento em que as mulheres começavam a ter um pouco mais de espaço e a lutar cada vez mais para sua voz ser ouvida”, afirma Mônica Sousa. “Tem papel importante no empoderamento das meninas! Ultrapassou as características que realmente são minhas e ganhou ‘vida própria’. Mas adoro o carinho que recebo dos fãs.”

Capa da primeira revista da Turma da Mônica (imagem: divulgação)
De “irmã do Zé Luís”, Mônica logo virou a “dona da rua”. O sucesso foi tanto que, em maio de 1970, ganhou sua própria revistinha mensal, publicada pela Editora Abril e com tiragem inicial de 200 mil exemplares. Cebolinha, a título de comparação, só conseguiu repetir essa proeza em 1973, Cascão e Chico Bento em 1982 e Magali em 1989. “Nunca dá para saber se um personagem vai cair no gosto popular. O sucesso é imponderável”, afirma Mauricio no livro A história que não está no gibi (Editora Primeira Pessoa, 2017).
Turma da Mônica ficou na Abril até dezembro de 1986. De lá, seguiu para a Editora Globo, onde permaneceu por quase 20 anos: de janeiro de 1987 a junho de 2006. Em um único mês, Mauricio atingiu a impressionante marca de 6,3 milhões de exemplares vendidos. Desde janeiro de 2007, os personagens da Mauricio de Sousa Produções (MSP), estúdio que já vendeu mais de 1 bilhão de gibis, são publicados pela Panini. Ao todo, Mauricio já criou mais de 300 personagens, como o cachorro Bidu, o elefante Jotalhão e o dinossauro Horácio, três dos mais famosos. A Turma da Mônica, aliás, é apenas uma entre as muitas que criou. Há outras “turminhas”: do Chico Bento, do Penadinho, da Tina, do Astronauta, do Piteco, do Papa-Capim…

Publicada em quase 50 países, Turma da Mônica já foi traduzida em mais de 30 idiomas. Virou Fratz & freunde na Alemanha, La banda di Monica na Itália e Monika dan kawan kawan na Indonésia. No país asiático, aliás, aconteceu algo curioso. Quem conta é o próprio Mauricio: “A Mônica foi escolhida modelo de comportamento pelas moças de lá. Fiquei orgulhoso e assustado ao mesmo tempo. Afinal, a Indonésia é um país de maioria muçulmana”.
“As meninas fortes de hoje serão as mulheres incríveis de amanhã”
Nos gibis, Mônica é uma garota de 7 anos que vive com os pais, Seu Sousa e Dona Luísa, no fictício Bairro do Limoeiro. Por que 7 anos? Bem, segundo a avó do Mauricio, Benedita Maria de Jesus, a Vó Dita, até os 7 anos, as crianças são puras e inocentes, ou seja, toda e qualquer travessura será sempre perdoada. Sua melhor amiga é a Magali, uma menina gulosa que come o dia todo e nunca engorda, e ela vive às turras com o Cebolinha, o garoto com apenas cinco fios de cabelo que, entre outros apelidos, gosta de chamá-la de “golducha”.

Mônica tinha quase 8 anos quando descobriu que havia inspirado o pai (imagem: Mauricio de Sousa Produções)
Ao longo dos anos, Mauricio fez alguns ajustes na aparência (e na personalidade) da Mônica. Ela perdeu o ar zangado e ganhou uma expressão sorridente. Em vez de bochechas pontudas, traços arredondados. Na pressa de produzir até 16 tirinhas por dia, Mauricio criou a Mônica sem sapatos! O único, aliás, que usa calçados é o Cebolinha. Ah, outra mudança importante: Mônica pode até rodopiar o Sansão em tom de ameaça, mas não dá mais coelhadas em ninguém. Sinal dos tempos. No mais, o vestidinho vermelho e os dentões protuberantes continuam lá, 60 anos depois. Seu coelho de pelúcia também mudou. Nos anos 1960, era amarelo e pesado. Na década seguinte, ficou azul e macio.
“Acredito que o segredo, não só do sucesso da Mônica, mas de todos os personagens da MSP, está na capacidade de se reinventar. Assim como nós, ela passou e continua passando por uma evolução. Procuramos atualizá-la para que possa atingir, dialogar e gerar identificação com as pessoas da melhor maneira possível e independentemente da faixa etária”, explica Mônica. Uma curiosidade: o nome do Sansão foi escolhido através de um concurso entre os leitores, em 1983. A ganhadora, entre 60 e tantos finalistas, foi Roberta Carpi, de Ribeirão Preto (SP). O nome do Mingau, o gato de estimação da Magali, também foi escolhido por concurso, seis anos depois. Na ocasião, a felizarda ganhou, de prêmio, um bichano de verdade.

Mônica tinha de 7 para 8 anos quando descobriu que havia sido ela a fonte de inspiração do pai na hora de criar a personagem mais famosa dos quadrinhos brasileiros. Quem contou foi uma coleguinha de turma. Certo dia, ela chegou em casa com cara de poucos amigos. “Pai, uma colega da escola falou que eu sou aquela menina do jornal. Por que ela disse isso?”, quis saber, como se estivesse prestes a dar umas coelhadas em Mauricio. “Bem, porque é você mesmo!”, respondeu ele, na lata. “Uma vez, quando era pequena, achei que era tão forte quanto a Mônica, arranjei briga e levei uma surra na rua. Meu pai teve que fazer um trabalho de conscientização de que aquilo era ficção”, recorda Mônica. “Na adolescência, eu não gostava muito, porque, querendo ou não, meu pai estava denunciando meu gênio para todo mundo. Mas, depois de um tempo, a gente vai se acostumando.”
Aos 18 anos, Mônica Sousa começou a trabalhar na lojinha da Mônica. Formada em desenho industrial pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, foi convidada a trabalhar no Departamento Comercial da MSP. Em 2016, lançou o projeto Donas da rua, que busca estimular o empoderamento feminino através de iniciativas como Donas da rua da história, que dá visibilidade às grandes mulheres do Brasil e do mundo, como a pintora mexicana Frida Kahlo (1907-1954), a ativista paquistanesa Malala Yousafzai e a jornalista brasileira Glória Maria (1949-2023). Hoje, aos 62 anos, ela é responsável por negociar contratos de licenciamento de mais de 4 mil produtos com cerca de 200 empresas. No 2o semestre, vai lançar sua biografia, Sou a Mônica, escrita com Débora Thomé e publicada pela Editora Record. “Venho de uma família de mulheres fortes e determinadas. Todas elas sempre brigavam pelo que acreditavam. A referência de liderança feminina começou desde minha bisavó (Dona Benedita), que comandava a família. Depois, vieram minha avó (Dona Petronilha) e minha mãe (Dona Marilene). Eram mulheres que diziam que eram ‘bravas’, mas eu prefiro chamá-las de fortes”, afirma Mônica.
“Desista, meu filho! Desenho não dá dinheiro nem futuro para ninguém”

Por pouco, muito pouco mesmo, nada disso teria acontecido. Quando tentou, aos 19 anos, arranjar emprego na redação da Folha da Manhã como desenhista, Mauricio de Sousa escutou de um chefe de arte, cujo nome ele prefere não divulgar, que deveria desistir da profissão. “Desenho não dá dinheiro nem futuro para ninguém. Vá fazer outra coisa da vida!”, aconselhou o sujeito antes de bater a porta. “Nossa, quando ele falou aquilo, o chão fugiu dos meus pés. Já naquela época, todo mundo elogiava meus desenhos. Meus pais, minha avó, minhas professoras… Será que todo mundo estava enganado e só ele, um dos maiores ilustradores do Brasil, tinha razão?”, recorda Mauricio.
Sentindo-se como um cão sem dono, ou melhor, como o Bidu sem Franjinha, Mauricio foi “socorrido” pelo jornalista Mário Cartaxo (1903-1983). “Você sabe escrever bem?”, perguntou o repórter. “Tem uma vaga de copidesque aqui no jornal. Interessa?” “Sei, sim. Gosto de ler e escrever. O que faz um copidesque?”, perguntou Mauricio enquanto guardava seus desenhos numa pasta. “Corrige erros, melhora o texto dos outros, essas coisas”, explicou. “Interessa.” E, assim, Mauricio foi contratado. Poucos meses depois, Cartaxo voltou a procurá-lo. “Abriram duas vagas de repórter. Uma na coluna social, outra na reportagem policial. Pode ser bom para você. Topa?”, indagou. Topou. “Meu Deus, repórter policial com medo de sangue! Nunca vi isso. Mas é verdade. Se eu visse, desmaiava”, Mauricio cai na risada. Mesmo assim, ele caprichou no figurino. Comprou capa e chapéu novos. Era uma singela homenagem ao detetive Dick Tracy, criado pelo cartunista norte-americano Chester Gould (1900-1985), em 1931. Como repórter da Folha da Manhã, cargo que ocupou dos 19 aos 24 anos, aprendeu, entre outras lições, como transmitir o máximo com o mínimo. “A linguagem jornalística é enxuta, direta, objetiva. Me ajudou a escrever os ‘balões’ das histórias em quadrinhos”, explica o Dick Tracy de Mogi das Cruzes.

Mônica não foi a única filha de Maurício a virar personagem de quadrinhos. Seu nome, aliás, é uma homenagem à atriz italiana Monica Vitti (1931-2022). Mariângela, de 63 anos, inspirou Maria Cebolinha. A primogênita da família Sousa, a exemplo da irmã do Cebolinha, tinha o “talento incomum de engatinhar para longe e se meter em situações arriscadas”. Magali, 61, as gêmeas Vanda e Valéria, 52, e Marina, 38, deram origem às personagens homônimas. “A Magali de verdade devorava, mesmo, uma melancia. Hoje, prefere uma pizza. Inteira”, dedura o pai. Entre os meninos, Mauro, 36, Maurício, 34, e Marcelo, 24, foram homenageados através de Nimbus, Do Contra e Marcelinho, respectivamente. Maurício Spada e Sousa (1971-2016) virou o Professor Spada. Até Cuíca, o vira-lata da família, inspirou o Bidu, gíria da época para “astuto” ou “esperto”. Por sua incrível semelhança com o pai, Mauro Sousa, aquele que inspirou o Nimbus, foi convidado pelo cineasta Pedro Vasconcelos para interpretá-lo em sua cinebiografia, ainda sem título oficial ou previsão de estreia.

Outra curiosidade: Cebolinha e Cascão, a dupla dos planos nada infalíveis, não foram criados à imagem e semelhança de nenhum dos filhos de Mauricio. O primeiro foi inspirado em Luís, um amigo de infância de Mogi que trocava o “r” pelo “l”. O apelido foi dado pelo pai do desenhista, o barbeiro Antônio Mauricio de Sousa: “O cabelo desse menino parece uma cebolinha”, deixou escapar certa vez. Já Cascão nasceu de outro amigo de infância, que morava num bairro em Mogi, o Alto São João, que não tinha água encanada. Por essa razão, o garoto só tomava banho “de verdade” aos sábados. Durante a semana, sua mãe só passava uma “aguinha” para tirar o grosso da sujeira.
Em agosto de 2008, Mauricio de Sousa inovou mais uma vez ao criar Turma da Mônica jovem. As crianças do Limoeiro, finalmente, cresceram. Em estilo mangá, Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali passaram a viver dilemas típicos da adolescência. Cebola fez tratamento para dislalia e Magali passou por reeducação alimentar. Turma da Mônica jovem, ou simplesmente TMJ, se tornou outro estrondoso sucesso de vendas (algumas edições, como a do primeiro beijo entre Mônica e Cebola, bateram à porta dos 700 mil exemplares vendidos), foi publicada em outros países (ganhou o título de Monica adventures nos Estados Unidos) e, conforme anunciado na última edição da CCXP, vai ganhar uma versão live-action nos cinemas.

Em junho de 2019, Mauricio criou outro spin-off da turminha: o Geração 12. Depois de ter 7 anos (na versão infantil) e 15 (na adolescente), a turma da Mônica passou a ter 12 em uma realidade alternativa. A primeira temporada teve início em julho de 2019 e chegou ao fim em julho de 2020. Cada temporada terá seis episódios e periodicidade bimestral. Se depender de Mauricio, Turma da Mônica vai ganhar, em breve, mais duas versões: adulta e idosa. “As crianças que, há 60 anos, aprenderam a ler com a Mônica viraram pais, avós e tios, mas continuam fãs da turminha. Já imaginou a Mônica, o Cebolinha, o Cascão e a Magali, todos com cabelinho branco?”, indaga, bolando outro plano infalível.
No último dia 10, Mauricio voltou a surpreender ao anunciar sua candidatura à Academia Brasileira de Letras (ABL). Ele vai concorrer à cadeira 8, que pertenceu à professora Cleonice Berardinelli (1916-2023). “Em meus encontros nas bienais do Livro e pelas escolas do Brasil, peço que quem aprendeu a ler com a Turma da Mônica levante a mão. Todos levantam”, relatou o desenhista em carta endereçada ao presidente da instituição, o jornalista Merval Pereira. “Penso que nossa função, como autores, é criar novos leitores”. A eleição será no dia 27 de abril.
Mauricio de Sousa já criou mais de 300 personagens e vendeu mais de 1 bilhão de gibis
Além das revistinhas quinzenais, surgiram outros formatos, como almanacões de férias, edições de bolso e revistas especiais, com temas como trabalho infantil, educação no trânsito e consumo consciente. O mais recente deles é a graphic novel (“romance gráfico”, em livre tradução), voltada para o público jovem e adulto. A ideia surgiu em 2009, quando o editor Sidney Gusman, responsável pelo planejamento editorial do estúdio, convidou 50 autores nacionais, como Laerte, Angeli e Ziraldo, para fazer releituras da Turma da Mônica em homenagem aos 50 anos de carreira de seu criador. Deu tão certo que o álbum MSP 50 – Mauricio de Sousa por 50 artistas inspirou mais três volumes: MSP+50, de 2010; MSP novos 50, de 2011; e Ouro da Casa, só com artistas da MSP, de 2012. “A Mônica é um ícone do quadrinho mundial. É uma personagem forte. E, quando falo de força, não me refiro apenas à força física. Ela tem uma personalidade agregadora. Não à toa, é a líder da turma”, afirma Gusman.

Batizada de Graphic MSP, a série consiste em histórias criadas por artistas brasileiros e desenhadas em diferentes estilos gráficos. Mauricio aprovou a ideia, mas fez uma recomendação ao editor: “Só promete uma coisa? Que vai cuidar dos meus filhos como se fossem seus?”. “Os autores têm plena liberdade para propor o que quiserem. Os pais da Mônica estão pensando em se separar? É o tema de Força. Vão trocar a Mônica de colégio? Lições. A única regra é: respeitar a essência da personagem”, explica Gusman.

Cena do filme «Laços» (imagem: divulgação)
A série Graphic MSP teve início em outubro de 2012, com Astronauta: Magnetar, de Danilo Beyruth, e já conta com 36 títulos. Desses, cinco foram protagonizados pela Mônica: três deles com a turma – Laços, de 2013, Lições, de 2015, e Lembranças, de 2017, da dupla Vitor e Lu Cafaggi – e dois sozinha: Força, de 2016, e Tesouros, de 2019, de Bianca Pinheiro. “Imaginávamos que fazer uma graphic novel da Turma da Mônica seria uma coisa grande. Mas não tínhamos noção do quão grande seria”, admite Vitor Cafaggi. “Recebemos o convite no fim da tarde e ficamos anotando ideias e conceitos até a hora de dormir. Queríamos uma história que conversasse com a infância das pessoas. Não importando se essa infância tivesse acontecido há cinco anos ou há 40.” Somados, os 36 títulos da Graphic MSP já venderam algo em torno de 800 mil exemplares.
Para 2023, a MSP anunciou o terceiro volume da trilogia da Mônica, também escrito e desenhado por Bianca Pinheiro. Estão previstos, ainda, álbuns de Jeremias, de Rafael Calça e Jefferson Costa; Magali, de Carol Rossetti; Xaveco, de Guilherme de Sousa; e Do Contra, de Yoshi Itice.
Nos cinemas
Em junho de 2019, o segundo álbum da série Graphic MSP, de autoria de Vitor e Lu Cafaggi, inspirou o roteiro de Laços, o primeiro filme live-action da Turma da Mônica. Com direção de Daniel Rezende, estreou em 743 salas de cinema, atraiu um público de 2 milhões de espectadores e ganhou uma continuação, Turma da Mônica – lições, em dezembro de 2021.

No roteiro de Thiago Dottori, Mônica, Cascão e Magali ajudam Cebolinha a encontrar seu cachorro, o Floquinho, que desapareceu misteriosamente. “Desde criança, eu esperava ver a versão live-action da turminha mais querida do Brasil. Quando entendi que, se quisesse ver essa versão nas telas, teria que correr atrás, transformei esse projeto em objetivo de vida. Sabia que, como eu, muitos brasileiros tinham essa vontade”, observa o cineasta Daniel Rezende. “Durante o processo, o olho do Mauricio foi nosso maior termômetro. Se a versão live-action fazia os olhos dele brilharem, o mesmo aconteceria com todos os brasileiros que aprenderam a ler com a Turma da Mônica. A ideia sempre foi ser fiel tanto aos personagens do Mauricio quanto às graphic novels dos Cafaggi e, ao mesmo tempo, vencer os desafios de uma adaptação cinematográfica. Não subestimamos a inteligência das crianças. E apostamos num tempo mais lúdico e lento do que o mundo digital de hoje em dia”, analisa o diretor. O próximo personagem da MSP a ganhar uma versão live-action será Chico Bento, com direção de Fernando Fraiha e ainda sem previsão de estreia. O caipira preguiçoso que adora roubar as goiabas do Nhô Lau será interpretado por Isaac Amendoim, de 9 anos.
A atriz escolhida para fazer a Mônica foi a paulistana Giulia Benite, na época com 10 anos. Até então, a personagem só tinha voz: a das atrizes e dubladoras Maria Amélia, de 1976 a 1982, e Marli Bortoletto, desde 1983. Os atores-mirins Kevin Vechiatto, Gabriel Moreira e Laura Rauseo deram vida a Cebolinha, Cascão e Magali.
O mais curioso é que, a princípio, quem faria o teste seria a irmã de Giulia, Bella. As candidatas precisavam ter até 12 anos e, no máximo, 1 metro e meio de altura. Bella tinha 12 anos, mas era bem mais alta. Conclusão: a mãe das meninas, Adriana, resolveu levar Giulia, que nunca tinha feito nada, nem publicidade, no lugar de Bella, que fazia curso de teatro. “Não fazia a menor ideia de que tinha chance. Simplesmente fui. E me surpreendia sempre que retornavam dizendo que eu tinha passado para uma nova fase”, conta a atriz, hoje com 14 anos, que enfrentou quatro meses de testes e disputou o papel com 7.500 candidatas. “Sempre fui fã da Turma da Mônica. O primeiro livro que li sozinha foi Lendas brasileiras, ilustrado pelo Mauricio. Pegava horas de fila na Bienal para ele autografar meus gibis. Fazer a Mônica e conhecer o Mauricio foram dois sonhos realizados”, orgulha-se Giulia.
Além dos longas, a atriz voltou a emprestar seu talento para a Mônica na série de oito episódios do Globoplay, que estreou em julho de 2022. “A intenção foi sempre usar a força da Mônica para reforçar a autoestima e estimular o empoderamento das meninas. O foco são as crianças. Acreditamos que a mudança precisa começar desde cedo. Mas acaba por atingir todos os públicos, uma vez que nossos personagens são queridos por diferentes gerações”, afirma Mônica.