Por: Jenis Barcelar
https://masticadoresbrasil.wordpress.com/?s=jenis

O antes e o agora se confundem numa teia idiótica e clichê, em formação do presente
O presente como dádiva? Lugar que estou agora ou gostaria de pertencer?
Encaro minha existência ainda em cima dessa cama
que conteve meu corpo quente, febril, cansado, sonhador
entre viagens astrais, choros e gozos de mim e de outros corpos amados
num vai e vem de perfumes
Ainda possuo esse passado no meu presente
Coisa engraçada de se querer posse
Como posso ter a pachorra de proferir como “meu”?
Talvez eu que seja pertencente no não-lugar
Sou uma mancha disforme
movendo-se drasticamente dentro de si mesma
na contorção perineal que impulsiona uma certa energia não compreendida
e pulsa todos os lugares já percorridos e agora já um tanto melancólicos
pela saudade do estar longe
Então através desse latejo
vem a ânsia do mundo abstrato
pra que ainda em cima dessa cama
eu veja o mundo magnânimo
Estende-se as linhas douradas emanantes de mim
e levam a todas as ruas sem nome
que percorri acompanhada só com a vontade de chegar à algum lugar
(Sempre chegamos)
Até à varanda do sobrado amarelo com vista pra uma casinha
que juro, já estive ali mesmo sem saber
E vai também por entre as paredes ásperas daquele banheiro apertado
(Que entra na coleção de banheiros sentimentais)
Dentro do apartamento apertado
No prédio apertado
Na minha vida apertada
Mas hoje eu expandi
aos espaços do desejo
do sensível e apaixonado
Desenho lugares em pessoas
pessoas em lugares
me faço dona do mundo porque esse sim é meu
Deito aqui sabendo que a realidade
está à uma entrega de distância do impossível