
No meu último dia visitando Castanhal, interior do Pará, passei por uma situação desconfortável que me abriu os olhos para o Brasil fora da minha bolha. Estava no salão e apareceu um homem na faixa etária 60+. Cumprimentou as mulheres e sentou no sofá. Éramos cinco mulheres. Ele começou a falar sobre família, divórcios e mulheres.
Colocou a culpa nas mulheres para os relacionamentos não estarem “funcionando”. Citou uma passagem da Bíblia em que, segundo ele, dizia que a mulher deveria ser submissa, cuidadora do homem, da casa, dos filhos. O homem? O provedor. Tinha uma moça com uns 16 anos e eu fiquei absurdamente incomodada por ela estar ouvindo essas afirmações.
Imagina quantas vezes ela já escutou isso na vida? Eu tinha o dever de me posicionar. Comentei sobre ser mulher nos dias de hoje. Ou a me defender? Contei sobre os lugares que as mulheres estão ocupando, que ninguém é obrigado a casar, que mulher não tem a função de cuidar do homem e, se quisermos, podemos ser as provedoras da casa.
Ele desviou do assunto e começou a usar a “palavra de Deus” para atacar a homossexualidade e as religiões diferentes da dele. A fala daquele homem pode destruir a vida de uma pessoa. Pode destruir uma família. Quantos levam como verdade o que ele diz?
Rebati todas as falas dele e a única resposta era que um dia eu encontraria o “caminho de Deus”. Então saiu da minha boca: “será que, na verdade, Deus não está me usando para te ensinar sobre não julgar o próximo? Deus é amor e você não é melhor do que ninguém”.
Não mudei o pensamento daquele homem, mas posso ter mostrado uma nova visão para a moça de 16 anos.
O que acontece quando não falamos nada?
O silêncio é consentimento. Bem feito.
Me gustaLe gusta a 1 persona